Quase todos os potenciais candidatos à presidência estão com problemas para tentarem o cargo.
A pouco mais de um ano do início da pré-campanha para as eleições presidenciais, o cenário nunca esteve tão incerto sobre quem serão os candidatos ao comando da república em 2022. Todos os principais nomes possuem alguma pendência a ser resolvida até lá e as pesquisas de opinião refletem esta realidade confusa.
Mesmo o nome mais certo para concorrer, o do presidente Jair Bolsonaro, precisa viabilizar sua candidatura. Para começar, ele tem a necessidade de se esquivar de todos os pedidos de impeachment que esperam para entrar na pauta da Câmara. A princípio, não há muito o que se preocupar, já que Bolsonaro conseguiu eleger seu aliado Arthur Lira (PP) para o comando da Casa. Cabe a Lira, monocraticamente, aceitar ou não os pedidos. No entanto, embora defenda o impeachment publicamente, a oposição trabalha para desgastar a imagem do presidente, já bastante prejudicada durante a pandemia, até o pleito do ano que vem.
Enquanto isso, Bolsonaro se afasta de seu vice, Hamilton Mourão, por acreditar que o general passou a atuar contra o governo nos últimos meses, vazando informações de reuniões privadas para a imprensa e com seus assessores procurando deputados para estudar a viabilidade do impeachment.
Outro cuja vida não anda muito fácil é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Lutando para se tornar o antagonista de Bolsonaro na política nacional, Doria teve até uma grande vitória na questão da vacina, mas está sofrendo com a falta de apoio de seu próprio partido. Isso ficou claro após a eleição para a presidência da Câmara, quando o PSDB abandonou o barco de Baleia Rossi (MDB), um dia antes da votação. Rossi era o candidato de Rodrigo Maia (DEM), também opositor de Bolsonaro. O governador até conseguiu reverter a posição oficial do partido, mas a articulação de caciques como Aécio Neves provocou uma debandada de deputados para a candidatura de Lira.
Dias mais tarde, Doria teve outra derrota, a recondução à presidência nacional da sigla do ex-deputado Bruno Araújo. Ele compõe o bloco contrário a Doria e mais próximo ao Planalto. Além disso, a recondução de Araújo faz ganhar força o nome do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como pré-candidato em 2022.
Já no PT, existem outros tipos de desentendimentos. O partido espera que o STF julgue a suspeição do ex-juiz Sergio Moro no julgamento do ex-presidente Lula, o que poderia devolver os direitos políticos ao líder petista. No entanto, as sinalizações mostram que o Supremo deve manter a inelegibilidade mesmo que Moro seja considerado suspeito. Tentando se adiantar, Lula já disse que não pretende ser candidato e já lançou o nome de Fernando Haddad para a corrida. Haddad, porém, disse que seu candidato ainda é Lula. O ex-prefeito de São Paulo está hesitante em disputar mais uma eleição desde 2018.
Por outro lado, Moro, que hoje lidera parte das pesquisas empatado com Bolsonaro, tem dúvida sobre ingressar de vez na política ou dar prosseguimento a projetos pessoais fora do Brasil. Há quem pense também que ele pode tentar outro cargo eletivo que não o de presidente da República.
Mas nem tudo se resume à política quando se especula os candidatos para o ano que vem. O apresentador Luciano Huck ficou dividido no último mês em sair candidato ou ficar na TV Globo, onde assumiria as tardes de domingo na programação com a saída de Fausto Silva. O horário é considerado um dos de maior prestígio na grade e ocupar este espaço poderia dar ainda mais força para Huck em 2026.
Por fim, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), viu o presidente de seu partido, ACM Neto, demonstrar todo o apoio a Bolsonaro nas últimas semanas, afastando das decisões a ala do partido contrária ao presidente. Na prática, isso inviabilizaria uma candidatura própria, já que Mandetta é crítico do Planalto desde que saiu do ministério.
Por enquanto, apenas a frente ampla de centro-esquerda, liderada por Ciro Gomes e com o apoio de nomes como Marina Silva, além de outros do PSB, REDE e PDT, parece estar organizada para tentar a cadeira presidencial. Ela, contudo, sofrerá com muita oposição da própria esquerda tradicional.