A Corrida do Pantanal vai reunir, no próximo dia 8 de outubro em Campo Grande, 20 mil histórias de vida, tão únicas quanto inspiradoras. Por ser um esporte acessível, a corrida de rua atrai praticantes de todas as idades e das mais diversas condições de saúde. Esse caráter inclusivo das corridas permite que pessoas com deficiência superem suas limitações físicas e realizem novos projetos de vida.
Entre as milhares de histórias que farão parte da edição 2023 da Corrida do Pantanal, está a do paulista Caíque Mendonça, de 27 anos. Deficiente visual, ele encontrou na corrida de rua um caminho repleto de desafios, amizades e descobertas.
Tudo começou há dois anos, observando um amigo do trabalho que já competia em corridas de rua e vivia sempre animado, cheio de energia. Motivado pelo colega, Caíque se inscreveu em uma prova de 10 km, mesmo sem ter nenhuma experiência no esporte.
“Fui um pouco ousado. Não sabia nada sobre largada, pelotão, postura, passada, respiração. Tive de aprender tudo na hora. Consegui completar a prova, só que por falta de treinamento eu lesionei o joelho. Mas minha felicidade em correr foi tão grande que eu não quis desistir. Busquei me aperfeiçoar para ir além”, conta.
Ainda na adolescência, Caíque teve perda de visão no olho direito devido ao glaucoma, uma doença silenciosa que leva à cegueira. Desde então, ele já passou por cirurgia e transplante de córnea. O uso de colírios para controlar a pressão interna ocular é uma constante na vida de Caíque. O esporte também faz parte do tratamento para manter-se saudável.
“Por conta da minha visão, se fico muito tempo sem movimentar meu corpo, minha coordenação motora fica debilitada até para coisas simples, como descer escada ou fazer caminhadas. Correr se tornou um estilo de vida, algo que me ajuda em tudo”, explica.
“Corrida é o que me mantém vivo”, conta Caíque
Além de superar a própria condição clínica, Caíque também precisa ajudar a mãe, Rosilena Soares de Mendonça, a vencer seus problemas de saúde. Em agosto, ela foi diagnosticada com câncer novamente. Nessas horas, o apoio mútuo entre mãe e filho tem sido fundamental.
“Minha mãe já fez tratamento de câncer duas vezes, e nunca a vi reclamando da vida, nem da doença, nem da quimioterapia. Ela é quem me dá bastante força, incentivo e inspiração. Vejo que ela gosta que eu participe das corridas. É uma troca, eu dando forças para ela e ela me fortalecendo. Não posso parar de correr”, conta.
Caíque concilia a rotina do trabalho com treinos leves em pelo menos três dias da semana. Nos finais de semana, a intensidade é maior para ganhar resistência física. O atleta conta que está empolgado para participar da Corrida do Pantanal ao lado de outros seis deficientes visuais e cinco cadeirantes na prova de 15 km para atletas PcD.
“Vai ser minha primeira prova fora de São Paulo. Estou bastante animado e quero aproveitar cada momento desse evento. Afinal, não é apenas correr, a gente também tem que se divertir, conhecer pessoas e histórias de vida que nos motivam a dar nosso melhor. Corrida é o que me mantém vivo”, conclui.