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Vacinar é preciso

Brasil larga atrás na corrida de imunização, mas ajuda da iniciativa privada pode virar o jogo.

Uma grande esperança para a população mundial surgiu logo nos primeiros dias de 2021. Depois de um ano da aparição dos primeiros casos de covid-19 na China, que virou o mundo de cabeça para baixo nos meses seguintes, as vacinas desenvolvidas para combater a variante de coronavírus começaram a ser aprovadas e aplicadas ao redor do globo. A princípio, esperava-se que a vacinação começasse durante os meses de fevereiro e março deste ano. Porém, o Reino Unido acabou se antecipando e aplicou a primeira dose, com grande pompa, poucos dias antes do Natal de 2020. Isso iniciou uma verdadeira corrida internacional de imunização.

A terra da rainha, no entanto, logo ficou para trás na corrida que ela mesmo começou. Israel e Emirados Árabes Unidos logo tomaram a liderança no número de pessoas vacinadas. Os dois países do Oriente Médio vacinaram mais da metade da população em poucas semanas. Para os outros, sobrou correr atrás do prejuízo para evitar a insatisfação popular. Governos intensificaram as negociações com as principais farmacêuticas produtores das vacinas, a chinesa Sinovac (produtora da Coronavac e parceria do Instituto Butantan), a sueca AstraZeneca (produtora da vacina de Oxford e parceira da Fiocruz), as norte-americanas Pfizer e Moderna, e o Instituro Gamaleya, ligado ao governo russo e desenvolvedor da vacina Sputnik V.

O Brasil foi um dos últimos países, entre as principais economias do mundo, a começar a vacinação. Depois de idas e vindas e uma forte disputa política entre o governador de São Paulo, João Dória, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, a Anvisa aprovou o uso das vacinas chinesa e de Oxford. No entanto, apenas a Coronavac estava disponível para início imediato das aplicações. A primeira dose foi dada no dia 17 de janeiro, em São Paulo. Desde então, o país avança com certa lentidão na porcentagem de população imunizada. A dificuldade do governo em negociar as doses e os insumos para produção dos imunizantes no Brasil é principal razão. Uma história que pode mudar com a entrada da iniciativa privada no jogo.

O estado de Mato Grosso do Sul foi pioneiro nessa discussão. Ainda no fim de janeiro, o presidente da Fiems, Sérgio Longen, validou com o senador Nelsinho Trad a apresentação de um projeto de lei no Senado Federal autorizando a compra do imunizante por parte da iniciativa privada nacional. No fim do ano passado, a federação havia apresentado um protocolo para a compra de 150 mil doses de vacina contra a Covid-19 produzida pela Pfizer. No entanto, a negociação não foi possível por conta de entraves na legislação.

“Tenho certeza de que nós precisamos avançar hoje mais na iniciativa privada e menos no Estado. É essa linha que eu defendo essa questão da vacina e é nessa linha que eu defendo outras ações”, declarou Longen.

“O projeto de lei está sendo elaborado nesse sentido e estamos aguardando respostas do Governo Federal para apresentá-lo o mais breve possível no Senado Federal”, afirmou o senador Nelsinho Trad.

A compra direta de vacinas pela iniciativa privada, no entanto, ainda deve esperar um pouco. As principais fabricantes mundiais afirmaram que estão com a produção comprometida para honrar os contratos com governos e organizações. Isso dará o tempo necessário para que o projeto seja devidamente debatido no Congresso. Por outro lado, laboratórios e farmacêuticas diferentes das anteriormente citadas estão desenvolvendo seus próprios imunizantes. Entre elas, está a multinacional Johnson & Johnson e a Bharat Biotech, da Índia.

Enquanto isso, alguns dos principais empresários do Brasil estão envolvidos numa iniciativa para acelerar a imunização em território nacional. A empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, anunciou a criação do Unidos Pela Vacina, movimento que quer facilitar a distribuição do imunizante para todos os brasileiros até setembro. A ideia é usar a influência dos empresários envolvidos no projeto para resolver problemas como falta de insumos para produção de vacinas, seringas e agulhas ou dificuldade de transporte dos imunizantes. Neste começo, a iniciativa não envolve aportes financeiros.

Além dela, outros nomes de peso do mundo dos negócios aderiram ao movimento. Paulo Kakinoff, presidente da Gol, é responsável pelo grupo que trata da logística das vacinas e insumos. O projeto também apoio da Febraban (Federação dos Bancos) e de outras centenas de empresas.

Atualmente, o Brasil ocupa por volta da trigésima colocação entre os países com mais habitantes vacinados. No ritmo atual, seriam necessários mais de três anos para conclusão da campanha. É certo que, para o país se ver livre da covid-19, será necessário colaboração entre governos, sociedade civil, terceiro setor, empresas e população em geral. “Eu defendo que a iniciativa privada avance na compra das vacinas e melhore também para o país a condição de imunização”, complementou Longen.

Credibilidade das vacinas

Uma pesquisa da Hibou – empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo – aponta que mais da metade dos brasileiros, 54,3% acredita que já estarão vacinados até o último trimestre de 2021. Pontualmente, por trimestre, 13% acredita que estará vacinado até março, 20,4% entre abril e junho, 21,9% entre julho e setembro e 17,5% entre outubro e dezembro. Apenas 14,6% acreditam que serão vacinados apenas em 2022

Considerando apenas os brasileiros que estão interessados em tomar a vacina, a CoronaVac/Sinovac (71,4%), a Pfizer (64%) e AstraZeneca (59%), são as três vacinas que lideram o nível de aceitação, seguidas de Johnson & Johnson (37,8%), Moderna (34,4%), Sputnik V (26,2%) e Sinopharm (22,1%).

“Ficou claro para nós que o brasileiro acredita na vacina e quer tomá-la o quanto antes para retomar 100% das atividades diante do que será o novo normal. Os números são claros e 87,4% da população pretende tomar a vacina. O que representa 9 entre 10 brasileiros. Apenas 12,6% têm opinião contrária e dispensam os imunizantes”, diz Ligia Mello, sócia da Hibou e responsável pela pesquisa.