Colunistas

19 de abril, dia do Exército Brasileiro

Por: Francisco Mineiro

 

Por que o Exército Brasileiro comemora seu dia em 19 de abril? Mas… não é o Dia do Índio? Há tantos índios assim no Exército? Bem, realmente temos muitos brasileiros índios integrando as Forças Armadas, as quais são um espelho do nosso povo. Mas não é esse o motivo.

A data foi escolhida por causa da Batalha dos Guararapes, ocorrida a 19 de abril de 1648. Nessa ocasião, pela primeira vez luso-brasileiros, negros e índios lutaram juntos contra um invasor estrangeiro. Tal adversário era de nacionalidade, língua e costumes diferentes de nossos caboclos: os holandeses.

Mas… por que brasileiros estariam lutando com holandeses, gente de tão longe?

Em 1630, uma poderosa esquadra atacou e conquistou Recife e Olinda. Pertencia à empresa Companhia das Índias Ocidentais (WIC), uma organização comercial de banqueiros e do governo da República dos países Baixos, ou Holanda.O objetivo da ocupação não era dizimar os portugueses e colonizar o território, criar uma “Nova Holanda”. Era um objetivo econômico: dominar o Nordeste do Brasil, e controlar os engenhos de açúcar dos colonos luso-brasileiros, pô-los a serviço da Companhia. Pernambuco era o maior produtor mundial de açúcar, um produto raro e caríssimo naqueles tempos, e os holandeses queriam o monopólio da produção.

Foram anos de domínio holandês em terras luso-brasileiras, nos quais variou muito a atitude dos invasores e dos invadidos. Houve até um período de grande progresso da região, durante os sete anos de governo do Conde Maurício de Nassau, de 1637 a 1644.

Mas Nassau foi uma exceção. No geral, os representantes da empresa pressionavam e extorquiam os produtores locais. O relacionamento era agravado com os conflitos culturais e religiosos: os portugueses eram profundamente católicos e os batavos eram protestantes calvinistas.

Em 15 de maio de 1645, dezoito líderes luso-brasileiros assinam o “Compromisso Imortal”, um documento em que se comprometiam lutar até a expulsão do invasor batavo. Nesse marcante documento, pela primeira vez nosso Brasil foi chamado de “pátria”.

A primeira batalha entre holandeses e colonos foi no Monte das Tabocas, em agosto de 1645. Tanta era a arrogância dos batavos, que gastaram capacidade de carga de suas carroças para transportar correntes, pois contavam fazer centenas de prisioneiros. Nas Tabocas, os caboclos infligiram uma dura derrota aos europeus, o que fez crescer o movimento de insurreição.

Em abril de 1648 os holandeses, tendo recebido reforços, decidiram fazer uma expedição para acabar com a rebelião. O objetivo era dominar a vila de Muribeca, onde os rebeldes mantinham estoques de suprimentos, e o porto de Nazaré, por onde aqueles eram abastecidos. A força batava era comandada pelo General Sigmund Schkopffe.

Os Generais Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros sabiam que a volumosa coluna de Schkopffe teria que passar numa estreita faixa de terra entre os Montes Guararapes e alagados.

Nesse local, quando os holandeses chegaram, na madrugada de 19 de abril, uma emboscada bem elaborada aliou-se à agilidade, coragem e fúria dos nacionais que defendiam sua terra.

Os brasileiros atacavam de surpresa,dos morros e dos brejos, e recuavam, em movimentos rápidos e coordenados. Os holandeses não conseguiram manobrar no terreno irregular, muito diferente das planícies europeias. Muitos morreram afogados ou presos na lama dos alagadiços. Vieira e Negreiros comandavam os terços de luso brasileiros,Henrique Dias comandava o terço de homens negros e o chefe potiguar Poti, ou Felipe Camarão, comandava um terço de indígenas. Um “terço” equivalia a dois batalhões atuais, entre 800 e 1500 soldados.

Sete mil e quinhentos mercenários holandeses, armados de mosquetes e acompanhados por artilharia, foram derrotados por dois mil e duzentos brancos, índios e negros brasileiros. Boa parte destes portava apenas armas brancas: espadas, lanças ou facões.

Canhões, munição, armas leves e suprimentos diversos foram abandonados pelos holandeses em fuga, assim como mortos e feridos.

Avitória fortaleceu e expandiu o movimento pela expulsão dos invasores. Mais uma batalha aconteceu nos mesmo Guararapesem fevereiro do ano seguinte, com nova vitória dos brasileiros.Após anos de guerrilha e combates, os holandeses renderam-se em janeiro de 1654, entregando as terras conquistadas, as fortalezas que haviam construído e grande quantidade de armas leves e canhões. Foi a “Capitulação do Campo da Taborda”.

A situação internacional ainda protelou o acordo final entre a República da Holanda e o Reino de Portugal, que só veio a ser assinado em Haia em 1661.

Adecisiva Batalha dos Guararapes, de 19 de abril de 1648 assinalou a união entre as etnias que compõem o povo brasileiro, o início do sentimento de uma Pátria nacional e a primeira ação de uma Força Armada composta e liderada por brasileiros. Por isto, a escolha dessa data para festejar o Exército do povo brasileiro. Lembremos dela!

Até a próxima.

 

Imagem capa: Quadro “A Batalha de Guararapes”, de Vítor Meirelles