Vinte anos depois de sua primeira exibição, a TV Globo reprisa mais uma vez a novela O Clone, um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira neste século. Poucas pessoas, contudo, param para pensar por que a obra escrita por Glória Perez e dirigida por Jaime Monjardim, com a brilhante trilha sonora de Marcus Vianna, atingiu tamanha repercussão. E a explicação é relativamente simples.
Até 2001, o Islamismo era uma religião com pouquíssimo destaque na mídia e, consequentemente, no conhecimento da população (lembrando que o acesso residencial à internet era muito restrito na época). Isso mudou cerca de um mês antes da estreia da novela, no dia 11 de setembro. Os motivos… bom, acho que são meio óbvios.
Diante daqueles acontecimentos que mudaram a história mundial e do crescimento da xenofobia e da islamofobia, debates sobre o islã tomaram a TV aberta, desde os programas de fofoca vespertinos até os talk shows noturnos. A curiosidade sobre tudo que envolvia aqueles costumes estava em alta.
Glória percebeu a grande oportunidade que tinha nas mãos e transformou sua obra no principal meio de esclarecimento sobre a religião islâmica para os brasileiros, utilizando para isso essencialmente dois personagens: Ali (Stenio Garcia) e Abdul (Sebastião Vasconcelos).
Mais do que isso, novela foi eficiente em estabelecer a ligação de harmonia entre um alegre núcleo suburbano carioca e uma família marroquina bem ligada aos seus costumes. Como consequência, o islã começou a se tornar algo próximo da nossa realidade – e diversas expressões repetidas pelos personagens em árabe se tornaram gírias até hoje.
É certo que houve distorções sobre a fé em favor da fluidez do roteiro, mas ninguém pode negar que, em questão de meses, pelo menos por aqui, a visão sobre os muçulmanos como um todo no imaginário popular mudou substancialmente – e para melhor.
Oito anos depois, já num mundo bem diferente, Glória Perez teria uma oportunidade parecida de sucesso, ao dirigir a novela Caminho das Índias, de 2009. Esta patinou na audiência no início, mas foi crescendo na carona da consagração de bollywood e do cinema indiano, que naquele ano venceu o Oscar com Quem Quer Ser um Milionário. Nos dois casos, um contexto mundial foi de grande importância para o case midiático.
Por Reinaldo Adri