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Foi dada a largada

Por Reinaldo Adri

Independentemente do que ocorra, a eleição de 2022 já é a mais emocionante de todos os tempos

A eleição de 2018 quebrou diversos paradigmas que existiam até então. Antes, era imprescindível que um candidato à presidência tivesse sólidas alianças nos estados e um considerável tempo de TV para se fazer notar. Víamos campanhas milionárias, com santinhos forrando as ruas antes e no dia da votação. A participação em debates, embora não fizesse muita diferença nas pesquisas, era o principal meio para converter indecisos na reta final e desqualificar ideias dos oponentes.

Agora, tudo mudou. A campanha começa bem antes do período eleitoral em si. Ela é fomentada por anos, com disputas ideológicas pautadas na eliminação do adversário.   A TV e o rádio deixaram de ter boa parte da influência que tinham e deram lugar às redes sociais e aos aplicativos de mensagens. Quando chega a hora de pedir votos, a situação só se acirra ainda mais.

Ninguém entendeu esta situação melhor do que o atual presidente Jair Bolsonaro. Crescendo na onda do antipetismo que se intensificou desde os protestos de 2013, a disputada eleição de 2014 e o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, tudo impulsionado pelas denúncias da operação Lava-Jato, ele foi aos poucos criando a imagem de defensor dos valores da família brasileira, do campo religioso ao social, e superando a sua alta rejeição por meio da adesão de grupos que antes buscavam alternativas mais moderadas. 

A febre bolsonarista que tomou conta do Brasil de norte a sul, ajudou a eleger governadores, deputados e senadores em todos os estados. Mas quatro anos se passaram e muita coisa aconteceu. Além de a Lava-Jato ter caído em descrédito, uma pandemia transformou o mundo e fez a gestão Bolsonaro ser bastante criticada e questionada, com direito a CPI. Ainda por cima, Lula, o principal antagonista de Bolsonaro, ganhou a liberdade e viu suas condenações serem anuladas pela justiça, chegando em 2022 como líder das pesquisas. 

De acordo com as várias sondagens divulgadas até o momento, o petista tem entre 40% e 46%, enquanto o atual presidente varia entre 29% e 36%.

É verdade que as pesquisas em si não significam muita coisa até uma semana antes da eleição, mas mostram o quanto o caminho está complicado para o atual presidente.

A terceira via, até o momento, não mostrou a que veio. O único que parece ter alguma chance de incomodar os líderes é Ciro Gomes. Porém, ele ainda não atingiu os dois dígitos nas intenções de voto. Tampouco a senadora por MS, Simone Tebet, parece empolgar o eleitorado órfão da centro-direita. 

Por incrível que pareça, as chances de Ciro e Simone em ir para o segundo turno não estão na possibilidade de um dos dois tirar a vaga de Bolsonaro, e sim a de Lula. Isso porque o capitão conta com o eleitorado mais fiel entre todos. Sua porcentagem é similar nas pesquisas espontâneas e estimuladas. Os 35% que estão convictos da escolha do presidente são os mesmos que consideram o atual governo bom ou ótimo.  Além disso, a tendência de Bolsonaro é  crescer na esteira da distribuição do novo Auxílio Brasil de R$ 600, redução da inflação e queda no preço dos combustíveis. 

Por outro lado, Lula vem mostrando bastante resiliência, inclusive entre o eleitorado mais dependente de benefícios sociais. O petista, com uma estratégia acertada, investe na imagem de que será ele, e não Bolsonaro, que manterá os auxílios nos patamares atuais a partir de 2023. 

Contudo, tanto Lula quanto Bolsonaro vêm frequentando ambientes controlados nos últimos meses. Evitam debates e somente dão entrevistas para simpatizantes. Nas poucas vezes que saem da zona de conforto e enfrentam ambientes minimamente hostis, dão declarações desastradas. Neste sentido, Lula tem mais a perder porque precisa passar uma imagem de moderação e não tem o estado sob seu controle.

A única coisa certa até o momento é que a eleição tende a ser decidida nos estados do Sudeste. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os lugares onde as pesquisas mais vem mostrando movimentação para presidente. E, conforme as coisas caminharem por cada um deles, as eleições locais para governador podem ser bastante influenciadas. 

Mato Grosso do Sul

Se o cenário nacional parece nebuloso demais para projeções, o estadual é uma verdadeira incógnita. Com quatro candidatos com chances reais de vitória até o momento, é impossível fazer qualquer prognóstico, somente algumas considerações.

Por nunca ter ocupado um cargo majoritário, por exemplo, o candidato da situação, Eduardo Riedel, tem a vantagem de um índice de rejeição menor que os demais. Numa disputa equilibrada, isso faz diferença. 

Conforme a campanha caminhar, entretanto, os ataques dos adversários podem mudar a situação parcialmente. 

Do outro lado, está André Puccinelli. Com 16 anos de mandato na prefeitura de Campo Grande e no governo de MS, o político tem fiéis seguidores, mas também numerosos detratores. Em geral, isso significa desvantagem, mas num pleito pautado pela emoção, pode virar um trunfo.

Puccinelli aparece por enquanto como líder. Na última pesquisa do Novo Ibrape, o ex-governador tem 23,8% das intenções.  Em segundo lugar, aparece Marquinhos Trad, que renunciou à prefeitura da capital num movimento ousado e arriscado. Com 17,8%, sempre convém lembrar que Trad foi o mais votado em todas as eleições que disputou, seja no legislativo ou no executivo. Agora, a situação é mais complicada. 

Na sequência, surgem Riedel e Rose Modesto, com pouco mais de 14% cada e, logo em seguida, Capitão Contar, com 8%. Todos no páreo tentando conquistar a grande massa de indecisos. 

De acordo com o mesmo levantamento, 82% dos eleitores não sabe dizer quem é o seu candidato de primeira, precisando que o entrevistador diga quais são as opções. Uma dúvida que não existe em relação ao cenário nacional e que pode ser muito influenciada por este. 

Foto: Divulgação