Colunistas

O livro ‘Jardim Fechado’, de Raquel Naveira

Livro Jardim Fechado

Por Rubenio Marcelo

Um ‘Jardim Fechado’ em que pétala e pólen vicejam em ambiente fecundo, com o aroma de encantos e mistérios sempre em sintonia pura com os desígnios altivos da beleza… Assim é a poesia de Raquel Naveira – seara naturalmente florida e frutífera, irrigada pela fonte cristalina da inspiração e da primazia. Destarte, ao celebrar trinta anos de carreira literária, em 2016 ela lançou – em Campo Grande, com apoio da SECTEI/MS – o seu livro: ‘Jardim Fechado – Uma Antologia Poética’ (ed. Vidráguas).

Esta consistente obra, que se divide em quinze capítulos, colige – além de poemas inéditos – outros escolhidos de vários livros já publicados por Raquel, como: ‘Via Sacra’ (1989), ‘Fonte Luminosa’ (1990), ‘Nunca-te-vi’ (1991), ‘Guerra entre irmãos’ (1993), ‘Sob os Cedros do Senhor’ (1994), ‘Canção dos Mistérios’ (1994), ‘Abadia’ (1995), ‘Caraguatá’ (1996), ‘Casa de Tecla’ (1998), ‘Senhora’ (1999), ‘Stella Maia’ (2001), ‘Nus Frontais in Xilogravuras de Valdir Rocha’ (2001), ‘Portão de Ferro’ (2006), e ‘Sangue Português’ (2012). Cada seção do volume acompanha respectiva e concisa fortuna crítica de escritores e críticos como Josué Montello, Artur da Távola, Moacyr Scliar, Lygia Fagundes Telles, Evanildo Bechara, Marco Lucchesi, Antonio Houaiss, Afonso Romano de Sant’Anna, Maria da Glória Sá Rosa, Nelly Novaes, e tantos outros.

Carlos Nejar afirma assim em trecho do prefácio: “… a poesia de Raquel Naveira se mune de história e é história que se mune de poesia, e de tal forma que uma se confunde com a outra e num eito narrativo se impõe e é o que a singulariza (…) é de centelhas que se somam aos fatos, com imagens que rodam no meio de relâmpagos. E continua com o silêncio, que é sombra das palavras, sendo palavras também sombras do silêncio”.

No capítulo final, no poema que dá título ao livro – e que, inspirado na passagem bíblica do ‘Cântico dos Cânticos’, possui fortíssima dosagem metafórica e terno sensualismo –, Raquel timbra: “Vem, noivo meu/ entra no jardim/ fechado/ selado/ cheirando a nardo e jasmim./ (…) Vem, jardineiro fiel/ sobe a escadaria/ que parece não ter fim/ e nos leva juntos ao céu./ Sou jardim fechado/ penetra neste vargim”.

Dentre as suas obras premiadas, podemos destacar: ‘Caraguatá’ (menção honrosa no Prêmio Ribeiro Couto – UBE-RJ, 1997), ‘Senhora’ (Prêmio Henriqueta Lisboa / Poesia – Academia Mineira de Letras, 2000; e Prêmio Jorge de Lima – Academia Carioca de Letras, 2000), ‘Sangue Português’ (Prêmio Guavira de Literatura – FCMS, 2013). Seus livros ‘Abadia’ e ‘Casa de Tecla’ foram finalistas do Jabuti, na categoria Poesia.

Poeta/escritora e palestrante, Raquel Naveira é formada em Direito e em Letras pela UCDB, onde exerceu o magistério superior (de 1987 a 2006). Doutora em Língua e Literatura Francesas, Mestre em Comunicação e Letras, pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Assim, trazendo de berço o dom divino (e irrenunciável) da pa/lavra poética, tece com ‘fios de prata’ o semblante do cotidiano e, desvendando as messes da linguagem, ela se aquece ao sol das ‘paragens longínquas’, contempla mitos essenciais, reinaugura-se em ritos e evocações, e compõe sagas e cantares invictos, pois é a ‘fiandeira de histórias lindas’, como bem disse, certa vez, a escritora  mineira Ely Vieitez Lisboa. O seu livro Jardim Fechado é a contínua dádiva/plataforma de uma relação íntima e ética com a palavra simbólica e uma interação prazerosa com a linguagem poética.

 

Rubenio Marcelo, poeta , escritor e compositor.

 

 

 

 

 

Foto: Divulgação