Prezado leitor, desde que o mundo é mundo, um dos fatores que ajudam o ser humano a manter-se estável nas agruras e batalhas da vida é a fé em um Ser Superior. Um Deus proporcionando proteção nesta vida e felicidade na próxima. Para os militares, os homens cuja profissão pode levá-los a encarar o frio sorriso da Morte, é mais importante ainda que sua Fé seja forte. Por isto, a figura da assistência religiosa nas forças bélicas existe desde sempre.
É interessante perceber que a primeira atividade dos descobridores portugueses no Brasil, da qual se tenha registro, foi uma missa? Realizada em 26 de abril 1500, na realidade foi um ato de assistência espiritual realizado capelão da frota de Cabral, Dom Henrique de Coimbra…
Colonizado pelos fervorosos portugueses, o Brasil era hegemonicamente católico, e todas as atividades, inclusive a faina militar, eram assistidas por clérigos católicos. Após a Independência, em 1822, o novo país herdou a cultura religiosa de seus antepassados. A religião Católica Apostólica Romana, pela Constituição de 1824, era a religião oficial do país. E nas cruentas guerras travadas ao longo do século XIX, a assistência religiosa foi fundamental.
Em 1874, conhecendo o trabalho realizado pelos sacerdotes nos dolorosos campos de batalha do Paraguai, o Imperador Pedro II criou a Repartição Eclesiástica do Exército, finalmente institucionalizando um trabalho que vinha ocorrendo pelos séculos.
Em 1889, para o melhor e para o pior, foi proclamada a República. Um dos pontos defendidos pelos republicanos, e nesse ponto específico eles tinham toda a razão, era a separação entre Religião e Estado. Nesse espírito, a nova República extinguiu a Repartição Eclesiástica do Exército. Não significou que a Igreja abandonou os militares, ou estes tornaram-se subitamente, ateus. Em cada guarnição militar, a interação entre os comandantes e os sacerdotes locais deram continuidade ao trabalho de manter o alento espiritual dos homens de farda.
Até que em 1942, o Brasil viu-se arrastar para a voragem esmagadora da Segunda Guerra Mundial. No processo de organização do Exército para o conflito, foi criado o Serviço de Assistência Religiosa da Força Expedicionária Brasileira – que existe até nossos dias com o nome de Serviço de Assistência Religiosa do Exército – SAREX. Seguiram para gélidos campos de batalha italianos vinte e seis padres, e dois pastores. Estes, os precursores da presença evangélica nas Capelanias Minliates.
Entre estes sacerdotes militares, estava um jovem nascido em Minas Gerais em 1913 chamado Antônio Álvares da Silva. Ordenado Padre em 1937, adotou o nome religioso de Frei Orlando, e passou a dedicar-se com invulgar afinco ao ensino e a ajudar os mais necessitados. Quando foi organizado o efetivo de clérigos para atuar na Segunda Guerra, voluntariou-se.

Sob a neve, os tiros e as bombas, Frei Orlando estava sempre em movimento, ficando próximo aos soldados da linha de frente, levando a eles o alento, a firmeza e a esperança que a Fé pode oferecer. No fatídico dia 13 de fevereiro de 1945, exatamente a véspera do famoso ataque ao Monte Castelo, Frei Orlando arriscava-se indo até as posições mais avançadas. Orava e conversava com os homens, tensos e temerosos pela batalha que se aproximava. Numa estrada, foi atingido pelo tiro acidental de um “partisan”, membro da resistência italiana contra os nazistas. Morreu trabalhando pelo bem-estar espiritual dos soldados.
13 de fevereiro é considerado o Dia da Assistência Religiosa do Exército, e Frei Orlando é seu Patrono. Em nossos dias, 220 mil militares da ativa e centenas de milhares da reserva são assistidos por Capelães Militares, espalhados por todo o território desse gigantesco Brasil. Cultos semanais, festividades religiosas, apoio nos momentos de sofrimento físico ou psíquico, amparo no luto, estreitamento das relações com a comunidade, catequese dos dependentes dos militares, bem diversificado é o trabalho desses Clérigos, também Oficiais do Exército. Muitas vezes os padres e pastores se unem em eventos ecumênicos. Até clérigos de outras crenças, como preletores espíritas e rabinos, podem ser convidados para unir-se em oração em momentos de grande festividade ou profunda dor.
Amigos, os clérigos militares são herdeiros das tradições que vieram de Portugal e do exemplo sacrificial de Frei Orlando. Rezemos ao Deus de nossas crenças para os Capelães nunca precisem acompanhas nossos filhos ou netos a um campo de batalha.
Até a próxima.