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Vire um especialista em uísques

Aprenda a diferenciar um uísque analisando várias características na bebida

Por Reinaldo Adri,

Você se considera um admirador de uísques? Gosta de beber com os amigos em casa, no bar ou na balada? Você sabe diferenciar cada um deles quanto ao sabor e ao aroma? Se a sua resposta foi ‘sim’ paras as duas primeiras perguntas, mas você ficou inseguro quanto à terceira, talvez este texto possa ajudá-lo. Depois que você conhece os detalhes para degustar a bebida, além de poder se mostrar intelectual, cada gole se transforma num momento muito mais saboroso.

Um uísque é produzido a partir de três ingredientes básicos: cereal (cevada, trigo, centeio ou milho), água e levedura. Os escoceses são todos feitos de cevada, diferentemente dos americanos, que são produzidos a partir milho, e dos canadenses, feitos de centeio. Outros grandes produtores mundiais são a Irlanda e o Japão, que investe o máximo possível para se aproximar da qualidade escocesa.

Para a produção, água deve ser extraída diretamente da nascente – não pode ser engarrafada. Já a levedura é a responsável pelo sabor forte e por transformar o amido em álcool.

E por que os escoceses são tão bons? É um erro achar que se trata de uma questão meramente cultural. O país britânico é um grande abençoado pela natureza e o ambiente mais propício para produzir uísque. Eles têm uma quantidade e variedade infinita de fontes de água (e a água de cada fonte é diferente da outra), resultado do solo vulcânico. Do solo também vem a turfa, um carvão vegetal responsável por dar um gosto defumado à bebida.

A Escócia também possui a vantagem de abrigar uma população pequena, o que significa pouca poluição. Além disso, o clima da região é ideal para o plantio de flores usadas na mistura para provocar tanto o sabor quanto o aroma floral.

Para ser considerado um ‘scotch’, o uísque deve seguir uma rígida legislação. A produção deve ser feita 100% no país e lá deve envelhecer por no mínimo três anos. O teor alcoólico não pode ser inferior à 40%.

Classificação

Chegou a hora legal. Aquela em que você vai aprender brevemente a classificar um uísque. As características vêm de três fatores: tipo, região e idade. A última influi determinantemente na suavidade da bebida. Quanto mais velho o uísque, mais fraco vai ser o sabor de álcool. E não: a cor nada tem a ver com a classificação.

Tipo

O primeiro tipo de uísque é chamado de ‘single malt’. Ele é feito totalmente a partir da cevada e produzido integralmente no mesmo lugar. Costuma ser considerado a essência do sabor do uísque e é o favorito do conservador povo escocês. Um viajante, no entanto, talvez não gostasse de experimentá-lo pela primeira vez, já que o gosto é bem seco.

O segundo tipo é o ‘single grain’ , que apesar de também ser feito apenas em uma destilaria, admite a mistura de grão não maltados na composição. Finalmente, há os ‘blended’, a mistura de vários uísques dos dois tipos anteriores para formar um só. Este foi o que dominou o mercado mundial  por conta dos vários sabores sentidos a cada gole. No Chivas 18 anos, por exemplo, pode-se sentir até 84 notas de sabor. “Um uísque são vários sabores. Assim como um perfume, que são várias fragrâncias que formam uma só”, afirma Rotella.

Região

Fora o tipo, também podemos classificar um uísque de acordo com a região da qual ele vem. Pode vir da região de Speyside (nordeste) da Escócia, responsável por mais de 50% da produção do país, de onde surgem os sabores mais florais. De Highlands, maior região de todas, ao norte de Ediburgo, onde são encontrados os sabores ardidos, aromáticos e herbais, ou de Lowlands, com sabores e aromas mais doces e delicados. Ainda é possível que venha da pequena península de Islay, onde estão os gostos defumados, salgados e secos.

O uísque que consumimos, na prática, é uma junção de bebidas de todas essas regiões, cuidadosamente selecionadas. Normalmente, o local com maior porcentagem na mistura costuma levar o crédito da produção.

Idade

A última maneira de se classificar um uísque é pela sua idade, definida pelo tempo de armazenamento do barril – e só no barril. As propriedades da bebida não mudam depois de engarrafadas.

Existem uísques envelhecidos de oito até 40 anos. Aqueles que não apresentam idades em seus rótulos possivelmente envelheceram apenas os três anos obrigatórios. Isso é feito para garantir o abastecimento mundial, devido a grande demanda.

Como um uísque é uma junção de vários, a idade apresentada no rótulo significa a da bebida mais nova presente ali. Num uísque de 12 anos, pode haver componentes bem mais velhos, mas nunca mais novos.

No caso dos escoceses, o envelhecimento é feito em barris usados, comprados de países que armazenam em barris virgens, caso dos EUA. Um barril dura no máximo 60 anos, ou três safras. Durante esse processo, boa parte evapora. Para se ter uma ideia, um quarto do barril evaporou para se fazer um uísque 12 anos, 35% evaporou para se fazer um de 18 anos e assim por diante. Os uísques ainda voltam para um barril durante seis meses antes de serem engarrafados para garantir a harmonização dos componentes.

Foto: Thomas Park